A insegurança da “segurança”

A insegurança da “segurança”

Arquivado em: Nanny State Watch, Portugal, Sondagens — elisabetejoaquim

Maioria dos portugueses coloca segurança à frente da privacidade.

É a conclusão de um estudo encomendado pela ADT Fire & Security à consultora PremiValor Consulting divulgado hoje em Lisboa, que indica que 77,4 por cento dos 826 inquiridos abdicariam da privacidade em troca da instalação de videovigilância, pois sentir-se-iam mais seguro com esta tecnologia. O estudo refere ainda que a maioria das pessoas teme usar os passeios públicos à noite.

Um perfeito exemplo de como a tecnologia da vigia casa bem com a noção de Estado fundamentado na crença de que este é o único com poder para garantir a segurança dos cidadãos, legitimando aí o seu carácter de detentor exclusivo do usa da força.

Hoje num programa de rádio uma ouvinte relatava o número de vezes que ela e a sua filha tinham sido assaltadas desde 2008, assegurando que nenhuma das queixas que tinha feito à policia tinha tido qualquer tipo de sucesso. A própria ouvinte perguntava como se podia fundamentar que, perante este cenário, fosse interdito aos cidadãos a possibilidade de possuirem aquilo que qualificou de «ferramentas de defesa pessoal».

Fez-me lembrar um caso caricato de uma amiga que se deslocou à esquadra com medo de entrar em casa por estar à porta do prédio um homem que a seguia há semanas. Para atestar o seu receio, ela referiu que devido a esta situação se tinha visto obrigada a trazer uma faca no porta-luvas. O caricato não é a situação em si, mas sim a reação das pessoas que a acompanharam à esquarda, que apressadamente e num riso nervoso se desdobraram em explicações, que a faca era «apenas para ameaçar, nada mais». A própria queixosa admitiu por fim ter sido ingénua ao referir, perante “forças da autoridade”, que procurara meios para a sua defesa pessoal. Obviamente ao perseguidor nada aconteceu.