NATO em Jerusalém

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NATO em Jerusalém

por BERNARDO PIRES DE LIMA

Numa jogada de belo efeito, Mahmoud Abbas sugeriu no The New York Times que a NATO assegurasse a segurança de Israel e da Palestina, depois de assinado o estatuto final de paz. As tropas da NATO substituiriam as israelitas na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental ou "onde quisessem, pelo tempo que quisessem". A ideia não é nova. Bill Clinton propôs um contingente internacional para dar força a um acordo de paz, George W. Bush recuperou a ideia, e o relatório Albright (2010), preliminar ao conceito estratégico da NATO em vigor, referia-se explicitamente ao papel da NATO como garantia da implementação do acordo.
O interesse na proposta de Abbas reside em dois outros pontos. Primeiro, o líder da Autoridade Palestiniana, que não controla Gaza, procura internacionalizar a garantia de segurança a Israel para obter moedas de troca nesta ronda de negociações (estatuto de Jerusalém, refugiados, colonatos e o não reconhecimento de Israel como "Estado judaico"). Abbas finge não saber que Telavive só confia nas suas tropas para garantir a segurança de Israel. Segundo, procura forçar os EUA a um acordo de paz favorável, comprometendo a NATO a monitorizar Israel e pondo os EUA e aliados na frente que lhe interessa: recuperar Gaza ao Hamas.
Num certo sentido, a proposta é sedutora para a NATO. Dá-lhe um papel no pós-Afeganistão, tende a arregimentar opinião pública favorável a uma missão aparentemente não-beligerante, e manteria europeus e americanos no mesmo barco. Mas a atração traz veneno. A natureza da NATO não é de manutenção da lei ou de acordos: é de intervenção militar com bases legais e legítimas. Além disso é ilusório pensar num acordo a breve prazo, tais as discrepâncias entre as partes. Por fim, sujeitar-se-ia a uma reação do Hamas, sendo obrigada a responder e a envolver-se no novelo do Médio Oriente por tempo indeterminado. Uma coisa é a música de Abbas, outra é a ingenuidade da NATO.

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